Temendo reflexos negativos na eleição de outubro, o Palácio do Planalto e
o PT se mobilizam para evitar atos de repressão policial violentos com potencial
de gerar uma onda de manifestações durante a Copa do Mundo. No início de
fevereiro, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, vai se reunir com
secretários de Segurança dos 12 Estados-sede para firmar um protocolo de atuação
policial frente as manifestações.
O Planalto dá como certa a ocorrência de protestos durante o torneio. A
avaliação de Dilma e seus assessores é de que a ocorrência de manifestações
pontuais não compromete a imagem da presidente. Já uma nova onda nacional de
protestos pode causar graves danos às vésperas das eleições presidenciais. Por
isso a preocupação do governo com a possível repressão violenta. Assessores de
Dilma lembram que, no ano passado, os protestos estavam localizados em São Paulo
até que a ação policial desproporcional provocou uma onda de atos de
solidariedade em todo o País.
Desde o início do ano Dilma tem se reunido semanalmente com ministros
para avaliar o quadro e cobrar providências. O núcleo duro do grupo de trabalho
é formado por Cardozo e pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Conforme a pauta,
outros ministros são convocados. A ideia inicial era fazer reuniões quinzenais,
mas o volume da demanda levou a presidente a intensificar o expediente.
Hoje Dilma retoma a agenda de inauguração de estádios, reformas de
aeroportos e obras de infraestrutura nas cidades-sede. A maratona começa em
Natal (RN) e termina com a entrega do Itaquerão, em São Paulo, no fim de março.
Também por orientação de Dilma, o ministro Gilberto Carvalho, da
Secretaria-Geral da Presidência, tem se reunido com movimentos populares
alinhados ao PT e pediu ajuda para monitorar o humor dos grupos que foram para
as ruas em 2013.
"O ministro queria saber qual é a expectativa, o que o pessoal está
esperando", disse o coordenador nacional da Central de Movimentos Populares
(CMP), Eduardo Cardoso, que participou de uma reunião com Carvalho no início de
dezembro, em Brasília.
A CMP participa ao lado de dezenas de outros movimentos da Articulação
Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) e tem acesso a grupos quase
inacessíveis ao governo.
Na semana passada Dilma autorizou a Secretaria-Geral da Presidência a
contratar dois funcionários para reforçar o diálogo com os descontentes. O
governo divide esse setor em dois grupos: o dos que foram diretamente afetados
pelas obras e o dos que fazem uma crítica ideológica à realização da Copa no
Brasil. Um levantamento com as demandas dos diretamente afetados já foi entregue
à presidente.
Segundo a Ancop, cerca de 400 mil pessoas, entre famílias removidas,
sem-teto e ambulantes, serão diretamente afetadas pela realização do torneio da
Fifa e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio.
Conforme Juliana Machado, integrante do Comitê Popular da Copa em São
Paulo, a Secretaria-Geral convocou uma reunião com movimentos em julho de 2013,
ainda no calor dos protestos, na qual foi apresentada uma pauta com seis
reivindicações: fim das remoções de famílias, preservação do espaço dos
ambulantes, respeito aos moradores de rua, desmilitarização das polícias,
respeito às manifestações e revogação da Lei Geral da Copa.
"Apresentamos nossas demandas mas não teve qualquer resultado porque o
representante do governo não tinha poder de decisão. Até hoje não tivemos
resposta. Os ministérios da Justiça e da Defesa também nos procuraram, mas até
agora nada", disse Juliana.
#vaitercopa. O PT também tem atuado para evitar um desgaste da presidente
às vésperas da eleição. No dia 12 o partido lançou a hashtag #vaitercopa. A
iniciativa, no entanto, foi abandonada. A ideia é adotar o slogan #CopadasCopas,
lançado pela própria Dilma no Twitter e baseado no discurso da presidente na
cerimônia de sorteio dos grupos do torneio, em dezembro.
"Não vamos dialogar com este movimento #naovaitercopa . Não tem sentido",
disse o secretário de Comunicação do PT, José Américo. Segundo ele, o partido
vai usar as redes sociais para desmentir boatos contra o governo espalhados na
rede e divulgar fatos positivos.